
Up: Altas Aventuras
Carl Fredricksen é um vendedor de balões que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie. Após um incidente, Carl é considerado uma ameaça pública e forçado a ser internado. Para evitar que isto aconteça, ele põe balões em sua casa, fazendo com que ela levante voo. Carl quer viajar para uma floresta na América do Sul, onde ele e Ellie sempre desejaram morar, mas descobre que um problema embarcou junto: Russell, um menino de 8 anos.
Inverno de 2008. Passo a tarde encarando o monitor, buscando alguma inspiração para escrever sobre um dos filmes mais geniais do ano e uma das melhores animações de todos os tempos, Wall-E. Enquanto tento encontrar uma frase de abertura digna do longa-metragem, penso em como o Pixar Animation Studios muito provavelmente alcançou seu ápice.
Inverno de 2009. Passo a tarde encarando o monitor, buscando alguma inspiração para escrever sobre um dos filmes mais geniais do ano e uma das melhores animações de todos os tempos, Up – Altas Aventuras. Enquanto tento encontrar uma frase de abertura digna do longa-metragem, penso em como o Pixar Animation Studios muito provavelmente jamais alcançará seu ápice.
A cada ano, a cada filme, o estúdio de animação mais autoral do cinema mainstream segue sua carreira de constante superação. E daí se os analistas da indústria acham que um filme estrelado por um velhinho será um fracasso, derrubando com a declaração as ações da Walt Disney Pictures?
Enquanto as gravatas lógicas vivem num presente feito de preconceitos e “cases de sucesso”, John Lasseter e sua equipe operam numa criativa dimensão paralela, em que méritos passados são mero guia do que não fazer a seguir. Na Pixar, nada é amainado para vender mais bonecos ou facilitar a comercialização… o que interessa é o desafio de deturpar o estabelecido, criando algo novo no processo e reinventando o que se entende como um filme-família – ainda que a inovação signifique um retorno às raízes do cinema.
E se o mercado anseia por robôs gigantes, ação mutante descerebrada ou sextas partes de sagas, o estúdio de animação apresenta a mais inusitada Dupla Dinâmica que se tem notícia: Carl Fredricksen, 78 anos; e Russell, 8. O primeiro é um amargurado vendedor de balões aposentado e viúvo. O outro, um alegre e esforçado escoteiro. Na aventura, ambos voam inadvertidamente juntos ao sul, em uma casa içada por milhares de balões multicoloridos. A trama inclui ainda elementos da história clássica de Arthur Conan Doyle, O Mundo Perdido (1912), em que um explorador traz de uma expedição à América do Sul ossos de um pterodátilo. Denunciado como uma fraude, o aventureiro retorna à selva com o intuito de capturar um espécime vivo.
Pete Docter (Monstros S.A.) e Bob Peterson, os diretores e roteiristas de Up, conseguem fundir essas premissas longínquas – e o fazem com ação intensa e uma dose de emotividade que só encontra paralelo nos antigos clássicos Disney (a cena em que Carl encontra coragem para abrir o diário da esposa falecida produz lágrimas suficientes pra salgar o saco de pipoca). A Era de Ouro das animações, aliás, é referenciada em vários momentos, uma homenagem dos animadores-autores de hoje aos seus antecessores-desbravadores da Disney.
A aula de história do cinema não para por aí. Se Wall-E deu uma abordagem clapliniana à ficção científica, o novo filme abusa de outros recursos consagrados – e lamentavelmente quase esquecidos – da Sétima Arte, usando de maneira brilhante lições aprendidas com mestres como Orson Welles. “Eu não acredito que palavra alguma possa explicar a vida de um homem”, disse um dos personagens de Cidadão Kane, e a introdução de Up – que traz à mente a famosa cena da mesa do filme de Welles – é prova incontestável disso.