
Toy Story 4
Quando um novo brinquedo chamado “Forky” se junta a Woody e sua turma, uma viagem ao lado de velhos e novos amigos revela quão grande o mundo pode ser para um brinquedo.
Na cena inicial do quarto Toy Story, os brinquedos se unem para resgatar um colega em perigo. O plano parece difícil, porém eles não poupam esforços até reestabelecerem a ordem. Ao longo dos próximos cem minutos, a narrativa apresenta pelo menos seis outras cenas de perseguição e resgate. “Eu não deixo nenhum brinquedo para trás!”, afirma Woody, orgulhoso, resumindo o lema do filme como um todo. Com a profusão de personagens acumulados em tantas aventuras, não é difícil espalhá-los ao longo da cidade – seja na casa, num antiquário ou num parque de diversões – encarregando os heróis de reunir o grupo novamente.
O filme adota uma estrutura semelhante àquela de Procurando Dory, outra sequência da Pixar que se articulava basicamente em torno de pequenas esquetes de ação. Naquele caso, o destino final era relativamente fácil de alcançar, porém a dificuldade se encontrava em atingir a linha de chegada juntos. Toy Story 4 trata de separar Woody, Buzz Lightyear e tantos outros devido a uma série de sequestros que necessitam salvação. A inclusão de personagens inéditos fornece novos alvos de perigo: Garfinho, Duke Kaboom e as pelúcias Coelhinho e Patinho servem sobretudo a testar a lealdade e coragem de Woody. Em paralelo, é uma pena constatar que os coadjuvantes consagrados nos filmes anteriores têm pouquíssimo a fazer, sendo praticamente esquecidos pelo roteiro.
Ao longo de três filmes, a franquia construiu uma linha narrativa madura sobre amizades e rupturas, sobre amadurecimento e morte. O terceiro filme, em especial, se concentrava na humanidade comovente dos brinquedos que assumem para si a responsabilidade de cuidar de “seus” adultos, cumprindo o papel de anjos da guarda. Ora, a quarta produção traz um programa muito mais simples: além da evidente mensagem sobre o valor da amizade (praticamente uma obrigação em animações infantis contemporâneas), o roteiro se aprofunda pouco nos dilemas e medos dos personagens. A obsessão do Garfinho pelo lixo soa artificial e excessivamente infantil, ao passo que o trauma de Duke Kaboom e a evolução de Gabby Gabby são previsíveis para qualquer espectador que tenha assistido às produções anteriores da Pixar.
Resta então uma articulação frenética de corridas, muito mais próximas dos filmes da Illumination, Blue Sky e Dreamworks do que das narrativas habituais de John Lasseter, Andrew Stanton e Pete Docter. Os aspectos técnicos impressionam: desde a cena inicial, o trabalho de iluminação sob a chuva é primoroso, e tanto a textura da pele dos personagens quanto o neon do parque de diversões fornecem boas possibilidades estéticas, exploradas a contento pelo diretor Josh Cooley. O trabalho de caracterização do som e brilho da porcelana, da materialidade do plástico e da simplicidade do Garfinho merece ser citado, mesmo que tamanho apuro técnico sirva a uma trama menos inventiva do que as precedentes. Talvez este seja o episódio mais infantil da saga, e também o menos ambicioso.