
Os Smurfs
O filme começa com Gargamel (Hank Azaria) finalmente encontrando a vila dos Smurfs. No desenho seu desejo era transformá-los em ouro; no filme, Gargamel quer capturar os Smurfs para tê-los como amuletos. Assustados, liderados pelo Smurf Desastrado, os pequeninos entram numa gruta proibida. Como é lua cheia, eles acabam transportados por um portal para o Central Park, em Nova York… Lá, Desastrado, Ranzinza, Smurfette, Gênio, Papai Smurf e Valente encontram refúgio com o casal vivido por Neil Patrick Harris e Jayma Mays.
Adaptações de sucessos do desenho animado para o cinema, mesclando atores e computação gráfica, deixaram de ser novidade desde o lançamento de Scooby-Doo, quase uma década atrás. A capacidade dos efeitos especiais de Hollywood fez com que a veracidade de tais personagens não fosse mais questionada, diante da excelência demonstrada. A grande questão passou a ser a transposição para a telona dos elementos que tornaram o personagem famoso na telinha, em uma história com duração bem maior do que um episódio televisivo. Apesar de algumas liberdades, Os Smurfs passa no teste.
A grande mudança é o local onde a ação acontece. A famosa vila dos Smurfs, com suas casas no formato de cogumelo e pequenas vielas, dá as caras por pouco tempo, logo no início do filme. O suficiente para provocar a sensação de magia, especialmente durante a bela cena do voo no pássaro, quando o local é apresentado. A consequente invasão de Gargamel, brilhantemente caracterizado por Hank Azaria, provoca cenas no melhor estilo cartoon, com armadilhas preparadas pelos Smurfs para protegê-los de seu algoz. Tudo bastante fiel ao visto nos desenhos dos anos 80. Até que seis Smurfs, durante a fuga, cruzam um túnel e vão parar em Nova York. Gargamel e Cruel, é claro, vão atrás deles. É aí que o filme muda bastante.
Em meio a prédios, agitação e muitos humanos, os Smurfs e Gargamel precisam se adequar a este estranho mundo novo. O contraste entre as duas realidades gera algumas das melhores piadas do filme, como a presença do banheiro químico e o contato com a fauna de Nova York, ou seja, seus cidadãos. Logo os Smurfs se envolvem com um jovem casal, Patrick (Neil Patrick Harris, correto) e Grace (Jayma Mays, graciosa), que está à espera do primeiro filho. Prato cheio para as tradicionais lições de companheirismo e paternidade, típicas de qualquer filme família.
Apesar da história ser um tanto quanto óbvia e algumas sequências serem descartáveis, como a do Guitar Hero, Os Smurfs diverte graças a espertas colocações de roteiro. Há breves citações a críticas feitas aos Smurfs ao longo dos tempos, como a irritabilidade de sua canção tema, a presença de apenas uma mulher e a falta de lógica em relação à definição dos nomes de cada personagem. Tudo com muito bom humor, é claro. Outro ponto positivo é o espanto repleto de ingenuidade dos Smurfs diante das maravilhas do mundo recém-descoberto, personificado principalmente em Smurfette e sua perplexidade diante da variedade de vestidos disponível.
Os Smurfs agrada também por conseguir manter características típicas do desenho, como a personalidade própria de Cruel e a criação, em plena Nova York, de perseguições envolvendo os personagens. Trata-se de um filme bem feito que, apesar de deixar uma ponta de decepção por mostrar pouco do universo natural dos Smurfs, consegue agradar crianças – pela animação e cenas de ação – e adultos – pelas citações e piadas implícitas do roteiro, além do inevitável ar de nostalgia. Destaque também para o bom uso do efeito 3D, especialmente na já citada cena do voo no pássaro e na batalha final contra Gargamel.