
O Quarto dos Desejos
Matt(Kevin Janssens) e Kate(Olga Kurylenko) são um jovem casal que decide mudar de vida e deixar a grande cidade de Nova Iorque. Na nova casa que compraram descobrem um quarto secreto que lhes concede todos os desejos materiais. Matt e Kate pedem tudo o que toda a vida sonharam, até que um dia pedem o que desejavam mais… Um filho. O que no início parece um sonho, depressa se transforma num pesadelo: o que O Quarto dos Desejos cria não pode sair da casa.
O gênero Gótico tem suas origens no Velho Mundo europeu com seus castelos e masmorras de sociedades que desapareceram. Já o gótico norte-americano é um interessante subgênero originado numa sociedade puritana que produziu ficções em torno de culpa, pecado original, abominações humanas decorrentes da miscigenação racial, incesto etc. E ainda mais interessante quando um filme desse subgênero é escrito e dirigido por um olhar europeu. Esse é o filme franco-belga “The Room” (2019): cansado de viver em Nova York, um jovem casal muda-se para um casarão vitoriano no interior de New Hampshire. Lá encontrarão não o sobrenatural, mas o horror produzido por uma misteriosa tecnologia por trás das paredes daquele casarão, capaz de materializar qualquer desejo que for dito. Mas, como em todo conto fantástico há um alerta: “A única coisa mais perigosa do que alguém que não consegue o que quer, é uma pessoa que possa ter tudo o que quiser”. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.
O gótico é um gênero europeu, intimamente relacionado com o movimento do Romantismo nos séculos XVIII-XIX: castelos, masmorras, grandes corredores labirínticos através dos quais transitam pessoas ou personagens sobrenaturais e acontecimentos que transitam entre o fantástico e o estranho, apagando as fronteiras entre a realidade e o imaginário. Essencialmente, é um gênero que explora o medo do desconhecido.
Portanto, é no mínimo curioso ver uma co-produção franco-belga, The Room (2019), dirigido e escrito pelo francês Christian Volcker fazer uma incursão pela ficção gótica norte-americana sobre um casal que se muda de Nova York para um velho casarão vitoriano no interior do Estado de New Hampshire.
A ficção gótica norte-americana é um subgênero do Gótico. Suas raízes estão em nomes de escritores como Edgar Allan Poe, Washington Irving e Herman Melville, até chegarmos ao século XX com H.P. Lovercraft e Stephen King.
O subgênero norte-americano se distingue do Gótico do Velho Mundo principalmente por ter surgido em uma sociedade puritana – culpa, pecado original, abominações humanas decorrentes da miscigenação racial, incesto, abjeção doméstica. O Fantástico e o medo do desconhecido se confundem com dramas envolvendo culpa, incesto, a sedução da inocência, sexo culpado (sadomasoquista), a percepção corpo fragmentado do corpo pela infante pré-formação do ego (daí o porquê do fascínio pelos corpos despedaçados, vísceras e sangue no cinema de terror) etc.
O Mal e o Estranho se confundem com os nossos próprios impulsos aos quais deveremos renunciar na resolução do Édipo e na entrada ao mundo da Cultura. Os filmes de terror dramatizariam a nossa própria luta interna em ter que renunciar a Natureza (prazer, impulso, gratificação imediata) em nome da Cultura (renúncia e sublimação).
Mas o diretor Christian Volckman é um europeu com o olhar do Velho Mundo para um filme gótico ambientado na América. Para um europeu, o que funda a América como um país continental distinto da cultura europeia? Essencialmente, a inovação tecnológica.
Numa sociedade puritana como a norte-americana, a tecnologia é a quintessência da pureza porque produto do engenho humano: é moralmente boa. O horror só pode vir da corrupção de algo essencialmente tão bom.