
O Paraíso Deve Ser Aqui. O diretor Elia Suleiman estrela seu próprio filme, uma saga cômica que investiga os significados do exílio e da busca por um lar. Palestino, Suleiman deixa seu país, à procura de uma nova vida. Mas aonde quer que ele vá, de Paris a Nova York, a Palestina parece segui-lo, pois algo sempre o faz lembrar de casa.
A princípio Elia Suleiman deixa sua terra natal, na Palestina. E viaja pelo mundo apenas para encontrar, por onde passa, os mesmos problemas que encontrava lá. De Paris à Nova York, ele se depara com problemas com a polícia, racismo e controle de imigração. Tentando deixar sua nacionalidade para trás, mas sendo sempre lembrado de onde veio, ele questiona o significado de identidade e o lugar que se pode chamar de lar.
Na sala de espera de uma grande produtora norte-americana, o cineasta Elia Suleiman (interpretando a si mesmo) é apresentado à mulher apressada: “Ele está fazendo um filme sobre a paz no Oriente Médio, mas é uma comédia”. Ela responde: “Sim, isso já é engraçado por si só”. Suleiman sai do local sem qualquer promessa de financiamento.
“Boa sorte com o seu projetp”, finaliza a mulher, portanto em falso tom de cordialidade. Instantes tragicômicos como este se multiplicam ao longo de It Must Be Heaven, comédia sobre as dificuldades sociais na Palestina. E a impressão de superioridade dos países ricos (França e Estados Unidos, no caso) em relação ao mundo árabe.
Em suas últimas ficções, o cineasta tem investido neste tipo muito específico de humor que provém unicamente da construção da imagem e de gags visuais, sem o apoio de diálogos nem explicações de qualquer tipo. Ele propõe esquetes que se colam de maneira livre, até formar um panorama político do tema em questão – numa clara herança de Buster Keaton e Jacques Tati, e em diálogo direto com as ironias visuais dos contemporâneos Roy Andersson e Aki Kaurismaki, por exemplo.
A princípio as cenas podem soar tão lúdicas quanto violentas, dependendo da interpretação. De qualquer maneira, não há espaço para ingenuidade no roteiro que propõe a viagem de um palestino a Paris e Nova York, apenas para perceber que estes lugares supostamente desenvolvidos possuem problemas sociais tão graves quantos os de sua terra natal.