
Fim de Festa. Voltando antecipadamente de suas férias depois do período carnavalesco para investigar o assassinato de uma jovem turista francesa, Breno Wanderley se depara com possíveis espelhamentos de sua própria história, da qual não consegue se desvencilhar. Entre a quarta-feira de cinzas e o domingo pós-carnaval, buscando desvendar o crime. Contudo vê em seu filho, também chamado Breno, uma chance de se reinventar numa cidade partida e melancólica.
Breno (Gustavo Patriota) e Penha (Amanda Beça) conhecem Ângelo (Leandro Villa) e Indira (Safira Moreira), um casal que veio da Bahia para festejar o carnaval. Em uma confraternização, os quatro jovens se reúnem na casa de Breno. Mas a quarta-feira de cinzas traz uma má notícia: uma jovem francesa é brutalmente assassinada por asfixia. O crime faz com que o pai de Breno (Irandhir Santos), um policial civil, retorne mais cedo de suas férias para investigar o caso. Além do incômodo de ter estranhos em sua casa, o oficial acaba encontrando vestígios afetivos no desdobramento do crime.
O Brasil está de ressaca, mas a festa pode e deve continuar. É esta a mensagem nas entrelinhas de Fim de Festa, que bem poderia ser descrito como um filme de carnaval, ainda que sua trama se inicie na tarde da quarta-feira de cinzas — conforme o título entrega, no exato momento em que a “festa termina”.
Nesse sentido, o longa do pernambucano Hilton Lacerda (do premiado Tatuagem) alcança os cinemas brasileiros na hora perfeita: justo na semana pós-Carnaval, teoricamente quando o país começa a funcionar para valer, contudo aos trancos e barrancos, entre dores de cabeça, paladares amargos e arrependimentos. Contada em um período de cinco dias seguidos, a história gira em torno da investigação de um crime bárbaro – uma turista francesa foi assassinada, asfixiada em meio ao êxtase de uma festa de rua em Recife. Não há testemunhas e todos parecem suspeitos.
Fim de Festa pode ser lido como um filme policial, mas é mais do que isso. Também é uma alegoria precisa das contradições do Brasil de hoje, com suas intolerâncias irracionais, diferenças repugnantes e abismos intransponíveis. É também uma estimulante colcha de retalhos humana costurada com personagens coloridos e interessantes. Na linha de frente está o ótimo Irandhir Santos, muito à vontade no papel de Breno, o investigador experiente designado para solucionar o caso. Escapando com elegância dos clichês comuns ao típico policial durão de bom coração, o ator equilibra energia e serenidade para criar um protagonista irresistível aos dias de hoje, enfim tão nobre e amável quanto falível e cancelável.