
Crônicas de Natal
Após causar um acidente com o trenó do Papai Noel, os irmãos Kate e Teddy embarcam em uma noite alucinante para tentar salvar o Natal.
Com um Papai Noel gato que rejeita constantemente o rótulo de idoso bonachão, algumas criaturas fofinhas e dois irmãos que vão aprender uma grande lição na sua aventura natalina, o filme serve exclusivamente ao seu propósito: entreter crianças e adultos (tolerantes) no período entre a ceia e a entrega de presentes. Produzido também pela 1492 de Chris Columbus, o longa certamente carrega a inspiração nos clássicos natalinos que levam o nome do cineasta/roteirista/produtor – como Gremlins e Esqueceram de Mim -, mas carece da autenticidade dos mesmos para extrapolar o rótulo e justificar a sua exibição em qualquer data no ano.
A direção de Clay Kaytis, de Angry Birds: O Filme, para o roteiro de David Guggenheim (Designated Survivor) e Matt Lieberman (A Família Addams, Scooby-Doo) estabelece uma lógica e um visual de desenho animado para Crônicas de Natal. A ideia é criar uma história sem muito compromisso, que se construa rapidamente e chegue à conclusão sustentada por elementos simples: personagens simpáticos, piadinhas e o já citado sentimentalismo. Nesse sentido, o Papai Noel moderno de Russell é o grande presente. Carismático e disposto a aproveitar cada cena, é prazeroso acompanhar o ator nessa “empreitada família”, com direito a performance de um breguíssimo blues natalino. Já as crianças, interpretadas por Judah Lewis e Darby Camp, são o oposto. Quando mais aparecem, mais se tornam irritantes. Porém, eis a vantagem de ver o filme pela Netflix: é possível pular as partes desagradáveis e ir direto para (e repetir) os momentos com Russell.
Não adianta nem questionar que, segundo o filme, o sucesso do Papai Noel pode evitar grandes problemas no mundo, ou que isso depende quase que exclusivamente dos presentes chegarem aos seus destinatários. É um mundo em que não existe pobreza ou desigualdade social e o grande obstáculo entre uma criança e seu objeto de desejo é a habilidade do entregador mágico de “improvisar” sua entrada na ausência de uma chaminé. É melhor apenas olhar para os elementos fantásticos e o senso de humor de fácil digestão que podem agradar aos pequenos. Para os adultos, além de um argumento que pode ser usado para apaziguar brigas entre irmãos, fica a esperança de que todo esse exagero sirva de inspiração: qualquer um pode fazer do Natal uma data que exalta o melhor do ser humano, basta prestar mais atenção no mundo a sua volta e ser capaz de encontrar satisfação apenas por contribuir para a felicidade alheia.