
Bem-vindos a Marwen
Mark Hogancamp (Steve Carell) é agredido por vários homens em um bar, e entra em coma. Quando torna-se consciente novamente, ele perdeu totalmente a memória, esquecendo a família e os amigos. Para recuperar as lembranças, Mark constrói uma maquete em miniatura de uma cidade belga chamada Marwencol, com bonecos representando os familiares e amigos próximos.
Para absorver melhor a crítica, é importante conhecer primeiro a história real: Mark Hogancamp foi espancado num crime de ódio na saída de um bar em sua cidadezinha e acabou passando muito tempo no hospital e em fisioterapias. Mas o pior de tudo é que ele perdeu completamente a memória do que aconteceu anteriormente ao ataque, inclusive sobre quem ele era. Para recuperar a sua vida com tantos traumas, ele resolve construir uma cidade que relembra a Bélgica na 2ª Guerra Mundial e fotografa os bonecos dessa cidade como se contassem histórias onde o protagonista é ele próprio.
Nesse filme do icônico diretor Robert Zemeckis (“Aliados”), apesar dele se basear totalmente em fatos reais, 70% da produção é algo fictício que é a imaginação do protagonista vivido por Steve Carell (“Vice”). Nela, utiliza-se de efeitos especiais de ponta para uma deslumbrante animação onde Carell é o boneco principal, cercado de bonecas que são as pessoas com as quais ele contracena em seu mundo de carne e osso.
O maior problema do roteiro é que a conexão entre o mundo de faz de conta e o mundo real do protagonista é muito tênue e pouco relevante. Ou seja, ela existe, mas o que acontece nos 30% de ação live action importam bem mais para a trama do que os eventos da animação. Assim, há uma predominância da estética sobre o conteúdo ou a essência, ainda que a animação tenha passagens memoráveis como uma belíssima homenagem ao clássico de Zemeckis “De Volta Para o Futuro” – inclusive o compositor é o mesmíssimo mestre Alan Silvestri – elas ainda continuam à margem do que acontece na “vida real”. A própria personagem Deja Thoris, uma espécie de antagonista, não faz o menor sentido para a trama e nem tem reflexo na vida de Mark. Se aprofundarmos um pouco mais há uma subjetividade entre ela e o próprio alter ego sombrio do protagonista (como também os bonecos soldados alemães), mas beira o desnecessário.