
A Vigilante
Sadie (Olivia Wilde) é uma mulher que sofreu violência doméstica e enquanto ajuda outras vítimas a se livrarem de seus agressores, tenta matar o próprio marido ( Morgan Spector) para que seja realmente livre. A Vigilante é um thriller inspirado na força e bravura de sobreviventes de abuso doméstico e os obstáculos que enfrentam para ficarem seguras.
A Vigilante é um filme que trata sobre um assunto extremamente delicado, o abuso doméstico, entretanto não é só de vontade e fôlego que se faz um filme.
Sadie é uma mulher com traumas profundos e que decide viver o seu luto a ajudar, de maneira visceral, mulheres que também sofrem de abusos domésticos. Protagonizado por Olivia Wilde, que tem o filme somente para si durante todo o tempo, observamos a criação de uma personagem com um sofrimento internalizado e canalizado para a violência, ao mesmo tempo que temos a oportunidade de observar seus momentos de maior vulnerabilidade. Wilde tem o melhor trabalho de sua carreira como atriz aqui, isto porque o filme a leva para extremos a todo o tempo.
Por outro lado, esta cadeia de extremos, responsável pelo sucesso de sua atriz principal, é ao mesmo tempo sintomática de um argumento episódico e, por vezes, incompatível. A escolha de Daggar-Nickson, responsável pelo argumento e realização, de não mostrar diretamente a violência a partir de suas personagens femininas – o que não acontece com os personagens masculinos – resulta numa perceção diminuta sobre a força física de sua protagonista, e ainda constrói uma sequência em específico sem perspectiva nenhuma de justificação.
Mas a cineasta, entretanto, faz bom uso dos close-ups, o que denota inclusive uma linguagem documental ao relatar histórias de mulheres vítimas de violência doméstica (técnica que coopera com a ligação entre a ficção e o real nesta obra), e aproxima-nos da tormenta mental vivida por Olivia Wilde.
A temática do abuso é abordada de uma perspectiva completamente feminina, o que, propositalmente, faz com que os personagens masculinos sejam pouco construídos e contribuam para, juntos, formarem o personagem vilão: o homem. Não fosse o trabalho de montagem que potencializa o caráter episódico do filme, e muitas vezes confunde o espectador com uma estrutura não justificada, a personagem do marido de Sadie não seria apenas mais um fator de distorção da trajetória principal da protagonista.
Por fim, a temática de A Vigilante, combinado ao trabalho de Olivia Wilde, conferem a sustentação do filme, já que Daggar-Nickson tem grande capacidade em criar tensão, ao mesmo tempo que é fiel à suas escolhas e personagens, e Wilde começa a substituir a impressão sobre seus trabalhos anteriormente feitos.