
A Grande Mentira
Em um jogo de gato e rato, o golpista Roy Courtnay não resiste aplicar seu golpe mais uma vez quando conhece a recém-viúva Betty McLeish. Porém, à medida em que a mulher abre sua casa e sua vida para o vigarista, ele se surpreende quando começa a se importar com ela.
No que diz respeito a filmes sobre golpes, todos os elementos se encontram neste A Grande Mentira: o golpista que oscila entre o carisma e a falta de escrúpulo; a vítima indefesa cuja função parece ser a de facilitar ainda mais o trabalho do criminoso; o parente ou amigo que vê além das aparências e tenta desmascarar o plano de ação, com direito a uma revelação sobre o passado do golpista que serve apenas para aproximá-lo de sua vítima; e a reviravolta. A fórmula em si não chega a ser um problema, mas a falta de personalidade para preencher as possibilidades que ela oferece se torna notável ao longo do filme de Bill Condon, principalmente pelo desperdício de Helen Mirren e Ian McKellen, embora eles sejam os pontos altos do projeto.
Os veteranos atores demonstram que, apesar das inconsistências do roteiro assinado por Jeffrey Hatcher, carisma e boa dinâmica podem alavancar uma trama — ao menos até certo ponto. No caso de McKellen, essas características são ainda mais visíveis. É um deleite observá-lo transitar com tanta leveza e competência entre os trejeitos de idoso debilitado e o cinismo do vigarista Roy Courtnay, indo dos fracos e sem intenção acenos de mão, passando por sutis gemidos de dor, até chegar à postura totalmente ereta combinada a um sorriso malicioso. Mirren, por sua vez, encarna com eficiência a doçura da recém-viúva Betty McLeish, embora seu desenvolvido seja em grande parte limitado por conta de uma decisão de roteiro que só será compreendida no terceiro ato.
O impasse de A Grande Mentira é se tornar refém da reviravolta, já que muito do que soa estranho ao longo da projeção acabe sendo explicado em uma única revelação. Ainda assim, o roteiro apresenta algumas fraquezas que nem este artifício consegue elucidar, a começar pela relação de Betty e Roy. Independente de qualquer esclarecimento feito ao fim, é curioso observar que as questões que aproximam os dois personagens nunca chegam a ser desenvolvidas a fundo, seja para tornar a relação mais crível ou para fazer algum comentário. O apreço pela companhia um do outro, a facilidade de se estar próximo de alguém da mesma geração e que tem as mesmas referências de mundo, além da identificação a partir do fato de ambos serem viúvos, são citadas pontualmente, mas não realmente ressaltadas na interação da dupla.