
A Cinco Passos de VocĂȘ
Aos dezesseis anos de idade, Stella Grant (Haley Lu Richardson) Ă© diferente da maior parte dos adolescentes: devido a uma fibrose cĂstica, ela passa muito tempo no hospital, entre tratamentos e acompanhamento mĂ©dico. Um dia, conhece Will Newman (Cole Sprouse), garoto que sofre da mesma doença que ela. A atração Ă© imediata, porĂ©m os dois sĂŁo obrigados a manter distĂąncia um do outro por questĂ”es de saĂșde. Enquanto Stella pensa em quebrar as regras e se aproximar do garoto da sua vida, Will começa a se rebelar contra o sistema e recusar o rigoroso tratamento.
Apenas cinco anos apĂłs o sucesso de A Culpa Ă das Estrelas, o filĂŁo inesperadamente rentĂĄvel dos romances dramĂĄticos sobre adolescentes doentes começa a demonstrar sinais de desgaste crĂŽnico. Criou-se uma estĂ©tica comum, tĂŁo funcional quanto mecĂąnica: a trilha sonora repleta de cançÔes indie melĂłdicas, vocação pela expressĂŁo artĂstica (os enfermos desenham, pintam, cantam, fazem artesanato), uso de celulares, tablets e computadores (afinal, trata-se de jovens de classe mĂ©dia ou mĂ©dia-alta), alĂ©m do olhar progressista que permite a representatividade, contanto que fique em posiçÔes secundĂĄrias (onde se encontram a maior parte dos jovens negros e gays nestas tramas).
Embora sejam fruto de uma sociedade conectada, estes jovens sĂŁo herdeiros das tragĂ©dias clĂĄssicas como Romeu e Julieta, no qual adolescentes que nĂŁo podem ficar juntos precisam burlar as regras e se amar como se nĂŁo houvesse amanhĂŁ, porque, de fato, pode nĂŁo existir o dia seguinte. Estes filmes carregam um sentimento de urgĂȘncia, uma mistura de rebeldia e piedade: como nĂŁo se sentir mal por adolescentes bonitos, gentis e educados, impedidos de viver uma juventude comum? O subgĂȘnero do âromance apesar da doençaâ – ou graças a ela – possui um fĂĄcil componente de identificação e universalidade.
A Cinco Passos de VocĂȘ corresponde, letra a letra, ao manual descrito acima. A fibrose cĂstica Ă© a patologia da vez, condenando Stella (Haley Lu Richardson) e Will (Cole Sprouse) a uma vida de internaçÔes no hospital. Eles nĂŁo podem se aproximar pois o contato com as bactĂ©rias alheias poderia ser mortal. Ă preciso, portanto, manter a distĂąncia descrita no tĂtulo. Mas como impedir dois jovens apaixonados, com os hormĂŽnios em ebulição, de se tocarem? Estranhamente, as famĂlias de ambos estĂŁo quase sempre ausentes, talvez para reforçar o sentimento de solidĂŁo e inconsequĂȘncia. Que pais carinhosos abandonam os filhos no hospital durante semanas, aparecendo apenas em eventuais intervençÔes cirĂșrgicas?
Este nĂŁo Ă© o Ășnico elemento de estranheza no roteiro. Embora se mantenha numa linha tĂȘnue entre o realismo e o melodrama, o terço final do filme abraça sem culpa o sentimentalismo, mesmo que para isso seja necessĂĄrio ignorar a lĂłgica. Uma cena importante envolvendo um lago congelado, e outra, com luzes piscantes e um complĂŽ entre familiares, sĂŁo tĂŁo romĂąnticas quanto inverossĂmeis. O diretor Justin Baldoni substitui a direção impessoal da primeira parte (imagens em tons beges e rosas, luzes de pouco contraste, enquadramentos tradicionais nos rostos, e abertos quando os protagonistas precisam manter distĂąncia um do outro) por algo mais prĂłximo da fĂĄbula. Quanto mais âmĂĄgicoâ, infelizmente, menor a potĂȘncia do projeto.
A maior sorte do filme Ă© contar com Haley Lu Richardson, uma excelente atriz que jĂĄ tinha se destacado em Columbus e Fragmentado. Ela alterna entre a garota provocadora ao lado das amigas, ingĂȘnua diante do garoto dos sonhos, brincalhona com o melhor amigo (Moises Arias), petulante, triste, engraçada. Richardson brinca com os diĂĄlogos, os gestos, numa variação preciosa – certamente muito melhor que o semblante monocĂłrdio de Cole Sprouse. A Cinco Passos de VocĂȘ contĂ©m algumas belas metĂĄforas, como se esperaria da mistura entre amor e morte. No entanto, o tom forçado da parte final transparece o desespero em trazer algo diferente Ă rĂgida fĂłrmula adolescente. O resultado corre o risco de ser comparado com dezenas de produçÔes semelhantes – muitas delas melhores do que esta -, sinal de que o segmento precisa urgentemente se reinventar, sem perder de vista a psicologia dos personagens e os rumos da trama.