
A Bailarina
Felicie é uma menina órfã apaixonada pela dança. Ao lado do seu melhor amigo Victor, que deseja se tornar um grande inventor, eles desenvolvem um grande plano de fuga para conseguirem o que querem. Eles fogem do orfanato em que vivem para Paris, a Cidade Luz, onde a torre Eiffel ainda está sendo construÃda. Felicie terá que se superar e aprender com seus erros para tornar o seu grande sonho em realidade: ser uma grande bailarina da Ópera Nacional de Paris.Â
França, século 19. Fim do século 19. “Belle Époque”. Situar A Bailarina em tempo e espaço quase que prioritariamente, como tantas sinopses do filme internet afora, vai bem além da contextualização pura e simples. É a sÃntese de seu principal elemento, do que caracteriza a animação de Eric Summer e Éric Warin como uma produção particular na indústria e faz até suas limitações visuais serem distintivas em relação à s principais obras do gênero, dominado comercialmente pelos estúdios Disney e Pixar. A cereja do bolo.
Sob o olhar fascinado de Félicie Milliner, a menina órfã que sonha em se tornar bailarina, conhecemos a Paris de 1880: uma cidade ainda vazia, porém efervescente, em plena transformação — urbana, cultural, social; total. Victor, o amigo de Félicie que constrói geringonças voadoras para auxiliá-la nas fugas, é, inteligentemente, um inventor. Desse modo, o menino que vem a ser funcionário de Gustave Eiffel personifica, com singeleza, o marco do progresso tecnológico no mundo moderno que foi a Belle Époque, revolucionando a comunicação e os transportes, impulsionando a arquitetura e as artes.
Assim, se a Estátua da Liberdade prestes a ser presenteada aos Estados Unidos e uma Torre Eiffel em construção representam um perÃodo histórico e também funcionam como ótimos cenários de ação dos protagonistas, as cenas externas da Cidade Luz remontam sutilmente à pintura impressionista. Até a definição da animação franco-canadense, sem o grau de nitidez das produções multimilionárias de Hollywood, mostra-se eficiente, pois realça as caracterÃsticas do célebre movimento artÃstico dessa bela época.
Diante de tal capacidade de encontrar boas resoluções visuais e narrativas para emular um tempo e seus Ãcones, é frustrante que a trama de A Bailarina seja tão simplória. A história de superação de Félicie segue o modelo mais formulaico possÃvel: para conseguir o papel de Clara na ópera O Quebra-Nozes, ela terá de bater suas concorrentes uma a uma num processo de eliminação tão previsÃvel quanto enfadonho. A mesma falta de inventividade se aplica ao melodrama do filme, a serviço das resoluções mais fáceis, de reviravoltas inconvincentes, de lições de moral pouco inspiradas. Outro subgênero marcante, o humor pastelão (slapstick) até confere carisma aos personagens, que são bobos mas condizentes com a ingenuidade e ternura que permeiam o longa animado.
A Bailarina encontra um equilÃbrio entre esses rompantes de criatividade e preguiça dos realizadores em suas músicas e coreografias — que, se não contêm o caráter revolucionário da Belle Époque, são moldadas à feição do amor ingênuo de Félicie pelo balé.